O Estoril Classic começa já amanhã, promovendo o regresso da Fórmula 1 ao Autódromo do Estoril através de um par de corridas com monolugares que marcaram a história da categoria máxima do automobilismo. Um desses carros é o Williams F07B, com dois exemplares presentes, que, nascido da pena de Patrick Head, levou a equipa britânica pela primeira vez aos títulos.
No início de 1979 a formação então sediada em Didcot apenas fazia número no mundo dos Grandes Prémios, algo que mudou no Grande Prémio da Grã-Bretanha, quando Clay Regazzoni triunfou na prova britânica, colocando a equipa de Frank Williams no círculo dos vencedores depois de muitos anos de frustrações.
A máquina que permitiu ao suíço abrir a conta da Williams foi o FW07 Cosworth DFV, um carro que explorava ao máximo o efeito de solo através de poderosos túneis venturi desenhados nos pontões laterais, algo que tinha sido preconizado nos dois anos anteriores pela Lotus de Colin Chapman.
Porém, com as forças geradas por esta tecnologia a aumentarem drasticamente, foi necessário recorrer a novos materiais para evitar a flexão e a Williams em 1980, ano em que conquistou os títulos de pilotos e de construtores pela primeira vez, tinha planos arrojados.
Contudo, como ocasionalmente acontece quando se explora os limites, nem tudo corre bem. “Iniciámos a temporada de 1980 com a intenção de competir com um carro chamado FW07B, a primeira corrida era em Buenos Aires, Argentina, e enviámos um FW07 standard para um teste a realizar antes”, começou por nos dizer Patrick Head, o projectista-chefe da Williams durante mais de trinta anos, que continuou: “Não fizemos qualquer teste com o 07B na Europa, que tinha flancos mais longos em compósito, em fibra de vidro/epoxy, e um sistema de saias diferente. Os flancos mostraram-se insuficientemente rígidos e o carro sofreu de muita “oscilação”, o que o tornava impossível de pilotar”.
Com o novo carro a funcionar aquém do esperado, Frank Williams e Patrick Head tiveram de encontrar uma solução de recurso e procurar formas de saltar algumas etapas. “Conseguimos colocar o Alan Jones num FW07, o que enviáramos para o teste, mas o Carlos Reutemann teve que de se qualificar num 07B. Ainda assim, mandámos para Buenos Aires um kit para converter esse carro num 07. O Carlos pôde exercer a sua influência para que os componentes passassem rapidamente pela alfândega”, sublinhou o inglês.
A prova teve diversas contrariedades, mas a Williams conseguiu mostrar que o FW07 continuava ainda um monolugar competitivo: “No dia de corrida estava muito calor e o asfalto estava a ceder, portanto, a prova foi, um pouco, como um troço de rali. Para além disso, organizadores apararam a relva antes da corrida e todos os carros sofreram, devido a relva cortada nos radiadores. O Carlos acabou por desistir com os radiadores bloqueados, o Alan venceu a corrida, mas foi um teste de sobrevivência”, reconheceu Patrick Head.
No entanto, foi com o Williams FW07B, modelo do qual estarão presentes no Estoril Classic dois exemplares, que a formação de Frank Williams arrancou definitivamente para os títulos. “Corremos com o FW07 desde 1979 até o Grande Prémio da Bélgica (n.d.r.: 1980), em Zolder, quando introduzimos o FW07B, que tinha flancos em carbono, com muito mais rigidez, e outras alterações. Conseguimos conquistar bons resultados e algumas dobradinhas”, lembra Patrick Head.
O técnico inglês, marcante na história da Fórmula 1, sublinha a competitividade do monolugar que garantiu à Williams os seus primeiros sucessos depois de muitas frustrações da parte de Frank Williams. “O FW07, nas suas diversas formas, era um bom carro, competindo em 1979, 1980, 1981 e no início de 1982”, destacou Patrick Head com algum paternalismo.
O muito público que se espera no Autódromo do Estoril poderá ver evoluir em pista precisamente dois exemplares deste modelo. Um deles, pilotado por Mark Hazell, foi um dos chassis utilizados por Alan Jones, quando o australiano lutou pelo título de 1981 até à última corrida com Nelson Piquet, acabando o brasileiro por conquistar o seu primeiro ceptro. A Williams acabaria como Campeã Mundial de Construtores.
O outro exemplar, com as cores da Penthouse, foi colocado em pista pela RAM, uma equipa privada, para Rupert Keegan ao longo da temporada de 1980.
É uma oportunidade de ouro para os amantes do automobilismo, em geral, e da Fórmula 1, em particular, terem a oportunidade de poderem ver carros que marcaram a história da disciplina máximo do desporto automóvel ao longo das duas corridas que se disputam este fim-de-semana no Estoril Classic, no Autódromo do Estoril, um palco que também marcou indelevelmente as páginas do automobilismo.
É a oportunidade única para todos os adeptos poderem ver com os seus próprios olhos carros históricos. Existem ainda bilhetes disponíveis nas lojas Fnac e Worten ou através do site estorilclassicsweek.com/bilhetes.